sexta-feira, 7 de outubro de 2011


12 de setembro de 2011 18:33
A maioria dos professores tem reclamado sobre o uso do ctrl+c/ctrl+v, que vem sendo utilizado pelo nosso alunado ao fazerem pesquisas escolares. Hoje lí um artigo muito interessante e quero, aqui, socializá-lo. Vale a pena ler e refletir sobre este assunto, já que, às vezes, incomoda tanto!!!

A cópia é a primeira parte de um trabalho de autoria

Betina Von Staa


O assunto “copia e cola” costuma deixar professores indignados, como se esse hábito tivesse sido inventado pelos nativos digitais. A indignação vem acompanhada de inúmeros juízos de valor a respeito da preguiça ou da falta de escrúpulos desta geração. Professores desenvolvem truques para evitar que seus alunos copiem, e universidades investem em sistemas antiplágio.

No entanto, não precisamos ver a tecnologia somente como causadora das cópias e de plágio. Se lembrarmos bem da nossa vida escolar, não foi a Internet que inventou o hábito de copiar na escola. Podemos, isso sim, entender qual é o lugar da cópia na escola e usar esse recurso tão prático até para promover mais aprendizagem.

Como isso é possível? É preciso ter em mente que nenhuma ideia surge no vazio. Sendo assim, antes de produzirmos nossos trabalhos cheios de criações brilhantes, temos que conhecer as ideias dos outros. É preciso buscar referências, ler, selecionar pontos interessantes, buscar definições para conceitos importantes. Se reforçarmos demais que os alunos têm de escrever com as próprias palavras, eles realmente podem começar a enganar, exatamente por perceberem que não dispõem “das próprias palavras” sobre o tema a ser pesquisado.

E se fizermos diferente? Podemos autorizar a cópia, com algumas condições. Em vez de pedir aos alunos que tragam o trabalho pronto, podemos pedir-lhes que descubram quem é a melhor pessoa ou instituição para me dizer como são os seres vivos da Antártida, o que é um terremoto, como são os planetas do Sistema Solar ou quais foram as causas da Revolução Francesa. Podemos lembrá-los de que as boas fontes certamente não são as primeiras indicações que aparecem na lista do Google – e Google não é fonte, é meio para chegar a elas! O desafio, então, é copiar o melhor material da Internet ou de livros.

Já pensou no significado de uma tarefa como essa? Não dá para pegar a primeira opção que aparecer, pois a turma inteira chegará com o mesmo material em sala. Não dá para pegar “qualquer coisa”, porque “qualquer coisa” não é “o melhor”. Com isso, os alunos terão a oportunidade de praticar uma importantíssima habilidade do século XXI, que é selecionar fontes de qualidade.

Autorizada a cópia no momento adequado, isto é, o momento de busca por materiais de consulta, é hora de trabalhar com esses recursos. Podemos, então, reunir os alunos em pequenos grupos, para analisar e avaliar as informações: qual é o material mais completo? Qual é o mais fácil de entender? Qual apresenta as melhores definições para os conceitos importantes sobre o assunto? As informações levantadas estão realmente corretas?

Desse modo, eles vão praticar outras habilidades importantes: as de análise e comparação. Para ajudar nesse processo, o que eles podem fazer? Copiar os melhores trechos! Podem fazer isso no caderno, no computador ou onde preferirem, desde que indiquem de onde estão retirando o material. Essa é uma excelente prática, realizada por qualquer pesquisador: conhecer as suas fontes de dar crédito a elas, apresentando as referências. Para facilitar o trabalho dos alunos, você pode até entregar-lhes uma tabela em branco com espaço para registrar o conceito, sua definição e sua fonte.

Já se trabalhou bastante, em casa e na escola e, até agora, só houve cópia, não é? Sim. Até o momento, só foram construídas as bases do trabalho. Agora, é hora de produzir de forma independente. Os alunos não precisam simplesmente responder como são dos seres vivos da Antártida, os planetas do Sistema Solar ou como foi a Revolução Francesa. Podem ser convidados a elaborar questões mais interessantes para seus trabalhos, com base em aspectos que lhes interessem. Podem criar questões como:

• De que forma os seres vivos da Antártida se defendem do frio?
• Eles poderiam viver em lugares quentes?
• Eles sobreviverão ao aquecimento global?
Sobre os planetas, podem fazer a pergunta clássica:
• Por que só existe vida na Terra?

E a respeito da Revolução Francesa, podem refletir sobre se as suas causas ainda estão presentes na sociedade em que vivemos hoje. Tendo um material básico, que lá foi lido, sobre o qual refletir, essas questões mais interessantes costumam aparecer.

A partir desse momento, acho que ninguém mais vai querer copiar, principalmente se for apresentar o trabalho final aos colegas da turma, da escola ou para a sociedade em geral via Internet (por meio do site da escola ou do blog da turma). A nova habilidade a ser praticada é a apresentação de ideias em diversos formatos para diferentes públicos: em forma de texto, filme, sequência de imagens, música ou uma reunião de todas essas linguagens.

Um bom trabalho de autoria demanda pesquisa, seleção de fontes, leitura, resumos, reflexão, produção e edição do texto final. Muitos alunos desconhecem essas etapas do processo e são cobrados para apresentar trabalhos criativos sobre assuntos que não são da sua área de interesse imediato. Vale a pena orientá-los sobre as etapas desse processo, para que realmente percebam que são capazes de produzir e apresentar seus próprios trabalhos.

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